Novelas da TV Vs. Séries na internet

Carolina Corte

O formato hegemônico de entretenimento na televisão está incorporando recursos da internet. Nos últimos dez anos, com a difusão da internet para diversas camadas sociais a televisão se apropria de recursos e tendências típicas de serviços online para se atualizar.

Se você pensa que a televisão irá se tornar um mercado esquecido está muito enganado. Embora redes sociais, como o YouTube, estejam ganhando cada vez mais publico, as emissoras televisivas ainda são as principais fontes de entretenimento da maioria da população brasileira.

A chegada da Netflix despertou as emissoras para uma urgência do online que está cada vez mais presente no cotidiano do brasileiro. Para se adequar a nova realidade do mercado de entretenimento as redes televisivas começam a investir no conteúdo online. É o caso do Globo Play, um aplicativo online que permite assistir novelas e programas já exibidos na telinha.

Segundo o francês Frédéric Martel, a guerra cultural mundial já foi declarada. Atrás dos conglomerados empresarias de emissoras como a Rede Globo, Rede Record, SBT entre outras, se formam um sistema de disputa política e econômica que são evidenciados também através de seu mercado de entretenimento.

Se eu penso, logo raciocino, significa que enquanto me divirto assistindo Êta Mundo Bom! ou ao acordar com o bordão “Acorda menina!” no programa da manhã Mais você estou sendo vitima de um jogo de interesses? Sim. É verdade. E é para ficar assustado mesmo!

O principal gênero de entretenimento na televisão brasileira é a novela. As novelas fazem parte da identidade cultural da sociedade brasileira. As novelas são o meio pelo qual diversos aspectos sociais são tratados em primeira mão. O caso da Rede Globo, que se utiliza das novelas para por em voga diversos temas tabus no âmbito social: questões de gênero, de sexualidade, passando por temas raciais/étnicos e de classes sociais que são temas recorrentes dos últimos anos nas novelas da emissora. Enquanto que a Record, com a temática bíblica, reforça uma ideia de religiosidade presente no imaginário brasileiro.

O paralelo feito aqui nos faz refletir a urgência da discussão sobre o assunto. Há de fato uma segmentação no tipo de entretenimento brasileiro por parte das emissoras? Se a Globo se coloca como a mais progressista a Record seria a mais conservadora? As emissoras estão produzindo um conteúdo especifico para seu canal. É passível de observação para o telespectador um pouco mais atento. Nesta mesma chave de pensamento o SBT seria a televisão que produz conteúdo (novelas) quase que exclusivamente para o publico infantil. O que tudo isso quer dizer?

As novelas se comportam como uma instituição no Brasil. Só na rede Globo são transmitidos seis capítulos de cada novela por semana e até cinco novelas por dia, sendo três destas inéditas às, 18, 19h e 20 horas — sem contar as minisséries e as novelas retransmitidas. Mas não só de novelas vive o telespectador, não é mesmo?

Na rede Globo o inicio do ano é marcado pelo tradicional reality show Big Brother Brasil – Votação BBB16. O programa é um fenômeno em todas as edições e possui um publico fiel há dezesseis anos. Neste programa e no mais recente É de casa é nítida a inserção de aspectos comuns da internet no televisor. Seja pelos formatos dos programas, pelo posicionamento das câmeras ou até mesmo pela linguagem empreendida pelos apresentadores. Ambos os programas se passam dentro de uma casa. O primeiro, embora se trate de um reality show, mostra a convivência caótica de personagens extremamente selecionados para refletir uma demanda social quase que inconsciente. O segundo, também dentro de uma casa, dá dicas sobre decoração e coisas do lar. Opostos que se atraem.

De certa forma o programa É de casa é o que mais se assemelha na linguagem do YouTube. É comum a presença de celebridades que nasceram no YouTube fazendo participação no programa. Dessa forma, as emissoras conseguem trazer de volta o publico da internet para frente do televisor. Embora seja uma tática esperta, não faz o publico da internet diminuir. Isso acontece porque geralmente o espectador da internet assiste o seus programas em dispositivos móveis, como celulares e tablets.

A televisão não vai acabar. No entanto, cada vez mais sua programação estará alinhada com a internet e serviços online. É preciso ficar sempre atento no posicionamento de todos os veículos de comunicação. No final das contas, tudo se trata de jogos de interesses. No campo do entretenimento perceber essas inclinações é difícil, mas não tão difícil depois que você terminar a leitura deste texto.

Crédito: Fabson Gabriel Pereira da Silva